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As mil cobranças de ser mulher em um mundo que exige tanto e acolhe tão pouco

mulher santada numa floresta segurando um girassol, olhando para o lado

Ser mulher é viver num campo minado de expectativas, onde qualquer escolha pode ser motivo de julgamento. É como tentar equilibrar dezenas de pratos girando ao mesmo tempo, enquanto o mundo te observa, pronto pra apontar o primeiro que cair.


Você precisa trabalhar fora, ser independente, mas não pode deixar a casa bagunçada. Tem que ser mãe perfeita, mas também profissional exemplar. Se decide não ter filhos, vem o julgamento. Se tem, vem a culpa. Se cuida demais, dizem que é fútil; se não cuida, é desleixada.


Se trabalha fora, é ausente. Se fica em casa, é sustentada.

Se tem filhos, é cobrada por tudo que faz, e pelo que não faz. Se decide não ter, é fria, incompleta, “vai se arrepender”.

Se é mãe dedicada, é “mãe coruja”. Se tira um tempo pra si, é egoísta.

Se cuida demais da imagem, é fútil. Se não se cuida, é relaxada.

Se usa maquiagem, é superficial. Se sai de cara lavada, está “acabada”.

Se pinta o cabelo, é vaidosa demais. Se deixa os fios brancos, “se largou”.

Se malha e come bem, é obcecada. Se não malha, é preguiçosa.

Se é magra, “não tem corpo de mulher”. Se é acima do peso, “é gorda e não se cuida”.


E ainda dizem que é só “se organizar",como se fosse simples dar conta de trabalhar, estudar, ser produtiva, cuidar da casa, dos filhos, do marido (que tantas vezes precisa de mais atenção que uma criança), fazer mercado, planejar o futuro, hidratar o cabelo, fazer as unhas, meditar, dormir bem, sorrir e, de quebra, manter a energia e o equilíbrio espiritual, mesmo com a oscilação de humor por conta dos hormônios.


Se fala de espiritualidade livre, é mística demais, bruxa, macumbeira.

Se confia nas plantas e óleos, é “a doida das ervas”.

Se busca autoconhecimento, é “cheia de palhaçada”.

Se explode, é histérica. Se silencia, é submissa.

Se é solteira, “ninguém a quer”. Se é casada, “se anulou”.

Se tem muitos amigos homens, é “atirada”. Se só tem amigas, é “antissocial”.

Se gosta de sair, é “inconsequente”. Se prefere ficar em casa, é “sem graça”.

Se se impõe, é “mandona”. Se obedece, é “sem personalidade”.

Se ganha bem, “deve ter um caso com o patrão”. Se ganha pouco, “não se esforça”.

Se é sensual, “quer chamar atenção”. Se se veste simples, “não se valoriza”.

Se ri alto, é “vulgar”. Se é discreta, “sem graça”.

Se se emociona, é “frágil”. Se segura o choro, “não tem coração, insensível”.

Se se separa, “não soube manter um homem”. Se fica em um relacionamento ruim, “não tem amor-próprio”.

Se fala de feminismo, é “radical”. Se não fala, é “alienada”.

Se quer crescer na carreira, “não pensa na família”. Se se dedica à família, “não tem ambição”.

Se gasta com ela mesma, é “gastadeira”. Se economiza, é “mão de vaca”.

Se quer ser vaidosa, “se acha”. Se se aceita como é, “não se cuida, é desleixada”.

Se se arruma, é “pra alguém”. Se não se arruma, “se largou”.

Se é independente, “não precisa de homem”. Se é romântica, “depende demais”.

Se fala de sexo, é “sem pudor”. Se não fala, é “reprimida”.

Se denuncia algo, “está exagerando”. Se se cala, “foi conivente”.

Se quer envelhecer com naturalidade, “deixou de se cuidar”. Se faz estética, “tem vaidade demais”.

Se quer estudar, “está adiando a vida”. Se não estuda, “não quer crescer”.

Se tem opinião própria, é “difícil de lidar”. Se concorda, é “sem atitude”.

Se é firme, “tem energia masculina”. Se é doce, “é boba”.

Se quer liberdade, “não quer compromisso”. Se quer um relacionamento, “é carente”.

Se tem corpo bonito, “é provocante”. Se não tem, “não é feminina”.

Se é mãe solo, “não soube escolher”. Se é casada, “vive à sombra do marido”.

Se dança, é livre demais. Se fica quieta, é fria demais.

Se sonha alto, está fora da realidade. Se se contenta, é sem ambição.

Se brilha, incomoda, causa inveja. Se se apaga, ninguém nota.

Se fala com firmeza, é arrogante, sem educação. Se fala com doçura, é ingênua, falsa.

Se mostra o corpo, se expõe demais. Se o cobre, é careta.

Se ama intensamente, é dependente. Se se protege, é insensível.

Se chora, dramatiza. Se engole o choro, é gelada.

Se corre atrás, é desesperada. Se espera, é acomodada.

Se questiona, é rebelde. Se aceita, é conformada.

Se é gentil, querem aproveitar. Se se impõe, querem derrubar.

Se perdoa, é boba. Se corta, é rancorosa.

Se trabalha demais, é obcecada. Se quer descanso, é preguiçosa.

Se busca liberdade, é rebelde. Se busca estabilidade, é acomodada.

Se quer o controle, “quer mandar em tudo”. Se perde o controle, “não dá conta de nada”.

Se fala da alma, é mística. Se fala de razão, é fria.

Se quer silêncio, é distante. Se quer atenção, é carente.

Se se despe das máscaras, é intensa demais. Se veste armaduras, é inacessível.

Se confia, é ingênua. Se duvida, é amarga.

Se envelhece, perdeu o brilho. Se tenta manter-se jovem, é vaidosa.

Se quer paz, é passiva. Se luta, é agressiva.

Se se reinventa, “mudou demais”. Se permanece, “não evoluiu”.

Se fala de autocuidado, é egoísta. Se esquece de si, é desequilibrada.

Se acredita no amor, é sonhadora. Se desacredita, é amarga.

Se segue o coração, é imprudente. Se segue a razão, é fria.

Se se escolhe, é narcisista. Se escolhe o outro, é submissa.

Se é empática, “absorve demais”. Se se protege, “se afastou do mundo”.

Se é bruxa, é temida. Se é sábia, é desacreditada.

Se é rebelde, é descontrolada. Se é disciplinada, é rígida.

Se segue a intuição, é irracional. Se segue a lógica, é dura.

Se brilha na luz, dizem que quer aparecer. Se mergulha na sombra, dizem que perdeu o rumo.


Ser mulher em um mundo machista é tentar ser perfeita dentro de um roteiro que não foi escrito por você. É ter que cuidar de tudo e de todos, enquanto a sociedade finge que isso é “natural”. E quando você cansa, porque é humana, dizem que falta equilíbrio, que precisa “ser mais grata”. Mas ninguém fala do peso que é tentar ser perfeita num mundo que exige tanto e acolhe tão pouco.


É uma guerra silenciosa entre o que o mundo espera e o que o seu coração pede.

Se quer tempo sozinha, é egoísta. Se dedica tempo demais aos outros, é submissa.

Se fala o que pensa, é arrogante. Se cala, é fraca.

Se é forte, “assusta os homens”. Se é sensível, “não aguenta nada”.


Tem que comer bem, se exercitar, meditar, manter a mente equilibrada, o corpo em dia, o cabelo pintado, as unhas feitas, a paciência intacta e a energia renovada, tudo isso em um sistema que te cobra mais do que te acolhe. E, no meio disso tudo, ainda precisa ouvir que está “de TPM” quando ousa ter opinião.


Mas mesmo com todas essas contradições, você segue. Segue firme, cansada, às vezes com vontade de desaparecer por um tempo, mas segue. Porque dentro de você existe uma força ancestral que o mundo ainda não conseguiu entender.


E talvez ser mulher seja exatamente isso: resistir com beleza, florescer mesmo depois de tantas podas, e continuar se reconstruindo, mesmo quando tudo parece te empurrar pra longe de quem você é.


Ser mulher é revolução diária. É coragem silenciosa. É continuar sendo, mesmo quando o mundo inteiro tenta te dizer como deveria ser. Eu escolhi parar de seguir o roteiro. Não pinto mais o cabelo, não passo esmalte, não uso produtos cheios de química. Faço meus próprios óleos, meus hidratantes, meu desodorante, minha maquiagem, e nisso há algo sagrado, o simples ato de cuidar de mim do meu jeito, de me aceitar do jeito que sou, de envelhecer de forma natural, sem seguir o que a sociedade impõe.


E sim, quando falo sobre isso, muitos me olham como se eu tivesse enlouquecido. Porque o mundo não sabe lidar com quem pensa por conta própria.

Mas eu não quero mais ser moldada pelo que esperam de mim. Não quero mais viver encaixada em padrões que sufocam a alma. Prefiro ser chamada de “doida”, “do contra”, “estranha”, a viver anestesiada por um sistema que ensina mulheres a se odiar um pouco por dia, a julgarem as outras à todo momento.


Enquanto a maioria caminha na mesma direção, eu escolho o caminho oposto, aquele que me devolve pra mim mesma. O caminho do que é natural, do que é consciente, do que tem essência. Não busco perfeição, busco verdade.


E se isso causa estranhamento, é porque ser livre ainda incomoda. Ser mulher livre é, talvez, o maior ato de rebeldia que existe.


Texto escrito por Michelle Reggo protegido por direitos autorais



mulher sorrindo

Michelle Reggo é Terapeuta Holística, Numeróloga, Radiestesista, Oraculista, Consultora em Feng Shui Tradicional Chinês e Consteladora Familiar Sistêmica. Especialista em terapias energéticas, dedica sua jornada a acolher e guiar mulheres que desejam se reconectar com sua essência, liberar bloqueios emocionais e despertar seu poder interior. Seu propósito é ajudar cada mulher a criar uma vida mais leve, equilibrada e próspera, manifestando abundância em todas as áreas do ser.

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Eu queria meu cabelo cortado baixinho: passei máquina 4. Pronto, sou “doida”, “radical” e outras coisas. Da minha dor, da minha vontade e de mim, somente eu sei e somente eu posso fazer por mim 🩷🌷

Ao refletir o seu texto, vejo quanto que quase ninguém está preparado para isso, nem mesmo as mulheres.

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